sábado, 23 de agosto de 2008

Detentos




Quatro paredes de concreto, aço e metal...
Ninguém dorme, todo mundo atento!
Na vigia um encapusado, com uma parafal.
E com saudades da família, favela e lar... É triste a vida do detento!

Pago o preço da morte, mesmo estando vivo.
Conto com Deus e com a sorte,
vivendo á todo instante em perigo.
E sem vascilo!

A mentira de ser inocente, a verdade sempre é a do poder jurídico, pois estão "sempre certos".
Tráfico e repressão á intorpecentes,
três anos condenado! Bate o juiz com o martelo.

É fácil você ver na tv, que o governo
gasta cinco mil por mês com cada detento.
Sabe qual é o difícil?
O difícil é você querer comer, a "bóia" que eu como aqui dentro.

SOFRIMENTO...
Na cadeia o relógio anda lento e descontente.
Pago o preço do passado,
vivendo no presente...
A revolta de pela minha própria família ser abandonado.

RECONSTITUIÇÃO...
Como querem homens regenerados,
com a précariedade da prisão?
Meu "xunxo" faz minha proteção,
chegou a hora da rebelião!
Vamos tacar fogo no colchão e dar um grito para a televisão!

Mas se agente multuar,
o governo se envolve!
CORREEEE! Chegou o "Choque"!
Por que, quem vascila morre!
...Quem vascila morre!

Paguei pelo crime cometido!
o juiz assinou, ele foi liberal!
Fui num carro preto, com flores e velas.
Sai da cadeia...
SÓ NO DIA DO MEU FUNERAL.


(Dedico este poema, para o meu tio, pois me inspirei em sua história. E tudo que aqui está escrito ele infelizmente sofreu. Foi morto no presídio Anibal Bruno, em maio de 2003. E para completar sua história infeliz, como ironia do destino, seu único filho, hoje se encontra no Centro de Triagem de Abreu e Lima "Cotel", aguardando passagem para o "Anibal", local esse que seu pai não conseguiu sair!)

Júlinho Mesquita

Um comentário:

Anônimo disse...

Júlio....

Diante do que seu tio passou e do que provavelmente espera seu primo....infelizmente só posso lamentar e pedir a Deus que dê forças à família para segurar mais esta " parada".

Vc tem total razão quando diz que cadeia não recupera ninguém...o que recupera é emprego, educação, segurança, saúde e dignidade ao cidadão...algo quase em extinção no nosso país.

Um Abraço!!!

Izabel Luna